Moro em Santos, trabalho em São Paulo. Ônibus fretado. Duas horas pra ir, duas pra voltar.
De manhã, vou dormindo. À tarde, vinha lendo, mas no inverno escurece cedo, e a vista já cansada pediu um tempo. Então passei a ouvir CDs.
Na segunda, fui de
Roda de Samba. É dos anos 60, e tem Paulinho da Viola (bem jovem), Elton Medeiros (mais ou menos), Zé Keti e Nelson Sargento (já veteranos) tocando juntos. É bom: samba da antiga, com letras simples mas belas (
Quero um amor perfeito/pra aliviar meu peito/ que por ti já padeceu demais). Nada a ver com o que chamam hoje de
pagode.
Terça-feira foi o clássico
Elis & Tom , que tem o famoso dueto em
Águas de Março. É de 1974. O repertório é basicamente de bossa nova, mas os arranjos têm guitarra e piano elétrico, um lance meio jazz. Elis puxou pro lado dela, escolhendo canções em que pudesse explorar aquele modo teatral de interpretar, que nem todo mundo gosta; acerta em cheio nas letras mais dramáticas (
Retrato em Branco e Preto), mas derrapa em
Corcovado, que é leve demais pra cantar daquele jeito. A melhor do disco, pra mim, é
Chovendo na Roseira.Na quarta foi
London Sessions, do blueseiro Howling Wolf acompanhado pelo Eric Clapton e o baixista e o baterista dos Rolling Stones. Os (então) jovens e (já) ricos roqueiros se contentam em ser só banda de apoio para o velho (que além de tocar gaita tem a melhor voz rouca que já ouvi cantando blues). Interessante: descendentes dos colonizadores cultuando a música de um neto de escravos... Daria uma boa tese, para um historiador.
Quinta-feira ouvi
Na Pancada do Ganzá, do Antonio Nóbrega, um cantor e ator pernambucano que é uma espécie de discípulo do Ariano Suassuna
(Auto da Compadecida). Ele resgata o folclore nordestino, recriando velhas cantigas de domínio público da região. Mas os músicos são de primeira, e tem até uma versão em ritmo de frevo (ou algo assim) para uma peça de Bach.
Termino a semana com o
Refazenda, um de meus discos preferidos do Gilberto Gil. É de 1973, acho, e o nome de algumas músicas já mostra o conceito (sim, é do tempo em que os discos tinham um "conceito") do disco
: Meditação,
Retiros Espirituais...