30 maio 2006

Os prédios tortos da praia de Santos


Quando eu era criança
Criança de tudo, seis, sete anos
Ia com a mãe brincar na praia de Santos.
Corria, rolava na areia, banhava no mar
Então cansava.
Deitado, mar de um lado
Do outro os prédios.
Prédios tortos, no chão de areia mole
Que a engenharia não vencia.

Daí pensava
Ser gente grande, sabido moço
Poder direitar eles, prédios
Tão tortos como a vida das pessoas.

E fui crescendo, jovem arteiro
Desenhos e cálculos, ficou mais difícil
Não saberia agora desentortar edifícios.
Mas a vida das pessoas... quem sabe poesia?

Então, fui aprender este ofício
Nas noites em claro, luares, violões
Deixei assim de ser ente torto
Ganhei rumo certo, direto, preciso:
Aprendi como é ser.

Já não ligo pros prédios, deixo eles tortos
Mas teimo ainda em rumar as pessoas
Mas posso isso, não
Porque um poeta só dá a ferramenta
Que a vida, cada qual conserta a sua.

26 maio 2006

Mais uma

Branquita estreou hoje no Overmundo (http://www.overmundo.com.br/banco/produto.php?produto=407). Não fez o mesmo "sucesso" de Andar Comigo, mas recebeu um comentário bem legal lá de Belo Horizonte.

Claro que vou continuar postando minhas músicas por lá. Como diria o Zagallo, agora vão ter de me engolir.

21 maio 2006

Deus salve o MP3

Minha canção "Andar Comigo" entrou neste final de semana no www.overmundo.com.br e recebeu 32 votos até agora. Está na home, com 27 "overpontos" e recebeu um comentário de uma pessoa de Natal, Rio Grande do Norte.

Guardo essas canções comigo há anos, dividindo-as apenas com parentes e amigos muito próximos. Vê-las alçando vôo, ainda que modesto, pelo mundo virtual é uma felicidade que não consigo descrever.

Obrigado, Deus, pela internet e pelo MP3.

10 maio 2006

Enquanto isso, no Overmundo...

... finalmente concertaram aquele mecanismo de busca. Agora é só digitar "Capi" que você encontra as quatro músicas que já consegui colocar lá (acesso discado não é fácil não). E com uma novidade: o número de votos "Gostei" que cada uma recebeu. "Canção à Toa" teve até agora 11 votos! Em seguida vem "Outro Ano" (3 votos), "A Última Canção Tropicalista (2) e "Oração do Violeiro" (só um voto, que foi o meu).

Devagarzinho, a coisa vai ficando legal. Tirando o meu voto e o do Arturo Bandini (que é meu amigo, então não conta) nove pessoas ouviram uma canção minha e se deram ao trabalho de clicar para dizer que gostaram. Você pode até dizer que eu me contento com pouco, mas hoje eu vou dormir mais feliz por causa disso.

Pergunta e resposta

Pra completar o assunto dos posts anteriores: em 1993 participei de uma entrevista coletiva com o Chico Buarque, no lançamento do disco "Paratodos". Perguntei o seguinte (ou pelo menos foi isso que a memória guardou):

- Chico, você acredita que hoje ainda pode surgir algo de novo e relevante na música brasileira, assim como nos anos 60 vieram, mais ou menos ao mesmo tempo, você, Caetano, Gil, Jorge Ben, Milton Nascimento, Roberto Carlos (sem falar nos Beatles e todo o rock da época)?

- Sim, acho que a música, e a arte em geral, está sempre se renovando. Mas aquele momento foi mesmo especial. Hoje pode ser até mais fácil o sujeito aparecer, ter os seus 15 minutos de fama, porque a indústria toda é mais voraz, tem a mídia e tudo. Mas daí a ter consistência, permanecer, é outra história. Mas de repente, enquanto eu falo com você, tem alguém fazendo uma música nova, estimulante, e ninguém sabe.

Com comentários

Falando ao Estadão (sábado, 6 de maio), Chico Buarque comentou uma teoria, que já ouvi antes em diversos lugares, sobre o fim da canção:

- Alguém diz que a canção nesse formato que conhecemos talvez seja própria do século 20 e no século 21 pode ser que venha outra coisa (essa outra coisa seria o rap, ritmo e poesia, sem melodia). Isso é um argumento contra mim, que procuro desmentir fazendo canções. mas quem disse que daqui a 50 anos, olhando pará trás, esse meu disco não seja tardio, um disco do século 20 que apareceu em 2006?

O Chico, com 40 anos de bagagem, pode até ter essa dúvida, mas eu não tenho. Pra mim o rap é só uma última manifestação, radicalizada ao extremo, da revolução musical que aconteceu na segunda metade do século passado (encabeçada pelo rock, mas que teve ramificações no soul, funk, reggae etc). Ou "o rococó do Tropicalismo", como falo na canção que está no Overmundo (http://www.overmundo.com.br/banco/produto.php?produto=162).

09 maio 2006

Sem comentários

De Chico Buarque, em entrevista à Folha (sábado, 6 de maio):

- Espero que disso tudo (o escândalo do mensalão) possa surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB, que acha que você ou é tucano ou é burro.

- E vem agora esse pessoal do PFL, justamente eles, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover.

- A economia, na verdade, não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muito diferença entre um próximo governo Lula ou da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo o Lula.

- É evidente que parte da minha geração que chegou ao poder não lutou a vida inteira para isso (o governo Lula). (...) Quem sabe para chegar ao poder tiveram de se render ao pragmatismo. A pessoa que chega ao poder é um pouco um fantasma daquela que deu a vida por algo que não se realizou.

04 maio 2006

407 mil capis

Li na Folha sobre o trabalho de uma compositora chamada Lulina e fiquei com vontade de ouvir. Fui no Google e digitei o nome. Apareceram 891 resultados, e logo o primeiro era da página dela na Trama Virtual.

Aí me animei e digitei "Pé da Letra", nome da banda virtual que botei na Trama. Deu 1.530.000 resultados! Dos 20 primeiros, a maioria tinha a ver com o Professor Pasquale, que tem uma coluna de jornal chamada "Ao Pé da Letra". Claro que não olhei os outros 1.529.980 resultados.

Então tentei "Capi", que também tem suas musiquinhas na Trama. Mais modesto, deu só 407.ooo. Só vi os primeiros 20, mas tinha de tudo: do Clube dos Amigos dos Porquinhos-da-Índia (a sigla dá CAPI) a um centro de estudos em Valinhos. Também descobri que "Capi" é o apelido de um ex-governador do Amapá.

Nesse momento, o Desabusado Estrategista de Marketing, outra figura que mora no meu cérebro, sugeriu inventar um novo nome:

- Cria algo diferente aí, pra chamar mais a atenção. Não precisa pensar muito, só muda umas letras pra ficar diferente, e se alguém perguntar diz que é por causa da numerologia. Que tal Capy? Ou Kapi? K-PI? Caapii? Ca´h Pih? Cccaaappii? Cappi? Kah-P?

E eu ia quase embarcando na conversa, quando o Velho Poeta Andarilho (um que fica vagando sem destino pela minha massa cinzenta, mas sempre aparece nas horas certas) interrompeu:

- Bicho, larga isso aí. Olha só que lua está lá fora...

03 maio 2006

Bola de Neve

No início, era o Arturo Bandini e seu blog. Aí eu achei legal e fiz um também. A novidade atraiu alguns amigos e parentes, que liam de vez em quando. Depois acho que foram se cansando e ficamos só os dois, um comentando os posts do outro.

Já estava começando a ficar enjoado dessa conversa de dois compadres, quando descobri o Overmundo e começamos a trocar idéias com mais gente. Agora, vejo no blog do Arturo que muitas outras pessoas estão lendo e comentando. Isso dá um gás novo, vontade de continuar escrevendo mais e melhor.

02 maio 2006

O Índio Véio

Cidadão de bom senso, discordo da atitude do presidente da Bolívia em relação ao gás etc. Mas o Jovem Militante Esquerdista Adormecido, que repousa em algum canto sinistro do meu cérebro, se empolgou com essa história.

- São 500 anos de exploração! O índio véio tá vingando todo o ouro, cobre, cana, café, borracha e tudo o mais o que portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses, franceses e ianques roubaram de nós latino-americanos.

Tentei ponderar, explicando que o povo que o Evo diz defender não vai lucrar nada se a Petrobras e outras deixarem o país, porque a Bolívia não tem dinheiro, tecnologia nem pessoal qualificado para explorar os tais dos hidrocarbonetos. E mesmo que tivesse, iria vender pra quem? Mas ele estava inquieto:

- Isso pode ser o início de uma nova era, em que as riquezas naturais serão melhor distribuídas. O fim dessa globalização excludente e predatória! Quem sabe até o Lula, inspirado no índio véio, retorne às raízes?

Aí foi demais pra mim. Deixei ele falando sozinho e fui ver se o garotinho (o meu, não o da Rosinha) queria tomar uma sopinha.