30 setembro 2006

Andanças (2)

Minhas caminhadas mais malucas foram no tempo que morava em São Paulo. Lembro de ter ido ver dois shows numa mesma noite, lá por 1993. Esqueci quais eram as bandas, mas um show acontecia no Aeroanta (Largo da Batata, em Pinheiros) e outro no Garage Rock, que ficava a umas duas quadras de distância. Como trabalhava no caderno de cultura de um jornal da cidade, tinha entrada livre em todos os shows, e ainda chamava os amigos.

Nessa época eu bebia e fumava muito. Ficava doidão mesmo. Entrava e saía de cada casa, via um pouco de cada show. Lá pelas tantas, o som muito ruim, não peguei ninguém e ainda perdi minha carona. Parei na barraquinha da esquina, comi um cachorro-quente reforçado e meti o pé na estrada – ou melhor, na avenida.

Segui inteira a Faria Lima, depois comecei a entrar por umas quebradas, sem saber bem pra onde ia. Passei pelo Itaim, Vila Nova Conceição, Moema, sei lá mais por onde. Lembrei de Alceu Valença (pelas ruas que andei/ procurei/ procurei procurei/ me encontrar). Era mais de quatro da manhã, nenhuma alma na rua.

Fui errando sem destino, guiado por meu senso sem direção. Quase amanhecia quando cheguei à avenida Indianópolis. Travestis encerravam expediente, recebi alguns convites, recusei. Entrei no apartamento da Saúde com o sol, caí na cama e dormi profundamente.

E era mais ou menos assim que me divertia quando tinha 20 e poucos anos.

29 setembro 2006

Andanças (1)

Sempre gostei de caminhar. Fiz até uma música sobre isso. Perdi a conta de quantas vezes percorri a pé os 7 km de praia de Santos. A mais memorável foi no Ano Novo de 1997. Eu e a futura Sra. Capi passamos a meia-noite na areia, na divisa com São Vicente. Depois fomos andando com o pé na água, apreciando as oferendas para Iemanjá. Comentamos a beleza dos ritmos e do ritual, lamentando a sujeira que aquilo faz no mar (a praia amanhece que é só pétalas de rosa e vidros de perfume, um trabalho danado pros garis).

Chegamos à casa de uma tia dela, passando o Canal 5. Dançamos muito. Quase amanhecendo, voltamos à praia pra ver o primeiro sol do ano. Chegamos a cochilar na areia, o amarelão demorou a aparecer (estava meio nublado). Depois deixei-a na casa da tia e segui a pé pra casa.

Foi nosso primeiro Ano Novo juntos. Dez anos e dois filhos depois, é raro termos uma chance da caminharmos novamente sozinhos e sem compromisso com horários, casa, fraldas e coisas assim.

Mas o brilho em nosso olhar continua o mesmo.

22 setembro 2006

Rótulos

Acredito na igualdade entre os seres humanos. Por mim, não haveria pobres nem ricos; seríamos todos remediados, vivendo de forma simples. Sou a favor de tudo o que se fizer para garantir maior justiça social no país. Se pensar assim é ser de esquerda, eu sou.

Admiro o trabalho. Quem tem uma iniciativa e pode investir nisso merece todo o apoio possível: menos burocracia, ambiente econômico seguro, lei mais flexíveis e menos impostos. Se pensar assim é ser de direita, então eu sou.

Adoro um domingo em família. Mesa grande, todo mundo reunido, macarronada com frango na casa da avó. Pai, mãe, tios, primos, irmãos, todos falando ao mesmo tempo. Depois, um café na sala, as crianças brincando, conversa jogada fora, rever fotos antigas. Se isso é ser careta, taí, eu sou.

Amo a liberdade. Vento batendo no rosto, pé na estrada sem destino. Sem futuro nem passado, só o momento, com aditivos lícitos ou ilícitos. Se isso é ser doidão, é o que sou.

Enfim, nunca me preocupei com rótulos. Mas também não tenho medo deles, não.

11 setembro 2006

Esse anjo da guarda é bom

Quando o pequeno Capi nasceu, desmontamos uma velha mesa de cozinha para fazer um trocador. Com uns suportes de prateleira, fixei a peça de madeira na parede do quarto, a um metro e pouco de altura, ideal para trocar as fraldas do bebê sem forçar as costas.

Um ano e nove meses depois, deixamos o pequeno sozinho no quarto por uns minutinhos e o encontramos de pé sobre o trocador, olhando um porta retratos na prateleira de cima! A Sra. Capi, num pulo, resgata o filho do local perigoso (seria uma queda e tanto, mais do que aquela do berço, há uns três meses) e me avisa que, a partir de amanhã, passamos a trocar o bebê na cama mesmo, pois o trocador vai sair da parede.

Não sei qual o santo que cuida dos anjos da guarda, mas vou rezar pedindo um aumento para o que protege o Pequeno Capi.

03 setembro 2006

Vote em alguém

Sei que ninguém perguntou, mas vou declarar aqui em quem vou votar nessas eleições (se não mudar de idéia até lá):

Pra deputado estadual, Fausto Figueira, PT. Poucos o conhecem fora de Santos. Foi vereador aqui algumas vezes, e desde 2002 está na Assembléia. Não há indícios de que tenha algum envolvimento nas falcatruas federais do PT.

Pra deputada federal, Soninha Francine, PT. Não conheço seu trabalho como vereadora em São Paulo, mas é excelente jornalista. Até que me provem o contrário, é uma mulher idealista. Talvez em Brasília se contamine. Voto pra ver.

Pra Senador, Eduardo Suplicy. Tentou ser candidato no lugar do Lula, em 2002, e tomou um baita gelo dos caciques do PT. OK, já é senador há um bocado de tempo, e é sempre bom renovar. Mas parece ser um dos poucos seres decentes naquela bagunça, melhor que fique mais um pouco.

Pra governador, Mercadante, sem a menor convicção. Votaria no Serra, mas não perdôo ele ter largado a prefeitura no meio do mandato. Merece perder pra aprender a cumprir a palavra.

Pra presidente, está mais difícil. Lula foi frustrante, mas não sei se eu mesmo faria muito diferente se estivesse no lugar dele. Alckimin parece melhor, mas há algo no PSDB que não me desce pela garganta. Vai ser uma decisão mais emocional do que racional. Dependerá de como eu acordar no dia.