25 setembro 2005

Atrasou o vôo, mas carregou as malas

Quarta-feira, fim de tarde. Aeroporto de Congonhas, São Paulo. Um avião quase lotado se prepara para voar rumo a Belo Horizonte. Está atrasado em quase meia hora.
Estou numa das primeiras fileiras. Reparo então em um senhor pequeno, de óculos, cabelos grisalhos enrolados, vestindo jaquetas jeans, que entra no avião de cabeça baixa, como quem não quer ser notado, e senta discretamente na primeira poltrona, à janela. Parece conhecido. Penso um pouco e lembro o nome: Caetano Veloso.

Logo que ele entra, as portas se fecham e começa a decolagem. Estavam esperando por ele.

Vôo tranquilo. Vou ouvindo no fone uma interessante seleção de músicos brasileiros cantando músicas de filmes da Disney. A melhor versão é do Bernardo Lobo (filho de Edu Lobo) cantando o tema de "A Pequena Sereia". Nas telinhas, um programa de variedades da TAM passa um videoclipe do... Caetano Veloso. As pessoas começam a cochichar ("olha, ele tá bem aí na frente") e eu imagino como isso deve ser constrangedor para ele. Ou não.

Quando o avião pousa, o Caetano é o primeiro a sair, quase deslizando da poltrona para a porta. Um sujeito a meu lado comenta: "Esses caras não devem nem esperar a bagagem, alguém na certa faz isso pra eles". Saímos do avião e vamos para a esteira de bagabens. Caetano está lá, parado, com um carrinho de mão, esperando sua bagagem. Uma ou duas pessoas se aproximam, pedem autógrafos, tiram fotos. Ele atende sem muita simpatia, mas com educação. Logo o deixam em paz. Ele tira do bolso da jaqueta uma maçã embrulhada em um guardanapo e começa a comer.

Aí me lembro de uma entrevista que vi na MTV há alguns anos, em que o Caetano criticava as mordomias e a arrogância dos grupos de música pop e rock estrangeiros quando vêm ao Brasil. "Os Beatles, que musicalmente valiam muito mais que qualquer um desses grupos, tinham muito mais humildade", dizia ele. "O Paul McCartney, no auge do sucesso, foi visto carregando o próprio amplificador durante uma turnê".

A esteira começa a se mover, as bagagens estão chegando. Além da mala, tenho três pacotes de folhetos promocionais da empresa para levar. Chega um, depois os outros dois, depois a mala. Empilho tudo no carrinho e olho pro Caetano bem à minha frente. Ele ainda está ali, esperando suas bagagens. Fico curioso de saber se ele também carrega, não digo o amplificador, mas o seu violão. Mas estou atrasado e vou-me embora.

No dia seguinte, de manhã, lendo o jornal no hotel, descubro o que ele estava fazendo ali: um show junto com Milton Nascimento, para divulgar a trilha sonora que ambos fizeram para um filme brasileiro, "O Coronel e o Lobisomem", que acaba de estrear.

16 horas em Belo Horizonte

Viajei a Belo Horizonte a trabalho, duas vezes em menos de um mês. Viagens-relâmpago: saio de SP às quatro da tarde e volto no dia seguinte, às 8h30 da manhã. Pouco mais de 16 horas.

Sempre que vou lá é pelo mesmo motivo: para cobrir eventos em que a empresa onde trabalho recebe um prêmio. O pessoal de Minas Gerais gosta desse negócio de prêmios. Geralmente quem promove essas coisas é alguma associação de classe em parceria com um jornal ou revista. Todo mundo fica feliz: a revista/jornal, que vende muitos anúncios (as empresas premiadas não se recusam a anunciar); a associação ou entidade de classe, que aluga seu espaço para o evento; e as empresas, que aparecem bem na fita. E eu, porque tenho um bom emprego por causa disso.

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Mas meu assunto sobre BH era outro. Queria dizer que, das outras vezes, fiquei com uma boa impressão da cidade porque, apesar de ser uma metrópole até um pouco parecida com São Paulo, o trânsito era muito melhor. As avenidas principais tinham um tráfego bastante intenso, mas não chegavam a ficar congestionadas.

Não ficavam. Dessa última vez, foi o cão: o avião atrasou (no post acima, conto o porquê), levei 45 minutos para ir do aeroporto ao hotel (normalmente leva uns 15) e... uma hora do hotel ao local do evento (quando o normal é 15 minutos!). Quando cheguei, a cerimônia já tinha acabado. Claro que deu para recuperar as informações, simular as fotos e tal (em 15 de jornalismo, a gente aprende alguns truques) e no final tudo ficou bem. Mas ficou a impressão de que, afinal, nem precisava ter ido até lá.

04 setembro 2005

Atentados e furacões

Há algo de muito curioso lá naquele país que fica ao norte do México. Quando os atentados derrubaram as torres no principal centro financeiro do país, o que se via nas ruas era: tristeza, comoção, heroísmo, solidariedade. Agora que um furacão varreu a sua região de maior riqueza cultural (berço do jazz e do blues, para dizer o mínimo) só se ouve falar em saques, conflitos, estupros, ódio.
Dá a impressão de que os Estados Unidos precisam mesmo de um inimigo – comunista, islâmico ou o que for – pois se acham o povo eleito por Deus para consertar o mundo. Quando o agressor é a própria natureza, ficam perdidos sem ter a quem culpar e se atacam uns aos outros.