Consciência Negra (1)
No trabalho, escovo os dentes após o almoço. Enquanto capricho no canino direito (tá meio amarelado), ouço dois colegas conversando, um papo qualquer sobre a preguiça que dá voltar a trabalhar depois de encher a pança:
- Semana com cinco dias cansa muito. Aqui não foi feriado... Também, Dia dos Negões, onde já se viu?
- É... na Bahia é que deve ter tido festa. Lá só tem negão.
- Mas na Bahia tanto faz ser feriado ou não. Lá não se trabalha nunca.
- Por que será que na Bahia é assim se em Fortaleza, por exemplo, não é?
- É que Fortaleza é no Ceará. Lá a colonização foi holandesa.
- E na Bahia, foi o quê?
- Ora, foi africana!
- Então tá explicado.
Os dois saem do banheiro e fico eu a refletir com meu fio dental. Em menos de dois minutos, uma tonelada de preconceitos e desinformação (os holandeses no Brasil ocuparam Pernambuco, e não o Ceará). Isso porque o diálogo em questão foi travado entre dois profissionais muito qualificados, com pós-graduação, fluência em idiomas e salários de cinco dígitos.
A gente tem ainda muito a aprender.
- Semana com cinco dias cansa muito. Aqui não foi feriado... Também, Dia dos Negões, onde já se viu?
- É... na Bahia é que deve ter tido festa. Lá só tem negão.
- Mas na Bahia tanto faz ser feriado ou não. Lá não se trabalha nunca.
- Por que será que na Bahia é assim se em Fortaleza, por exemplo, não é?
- É que Fortaleza é no Ceará. Lá a colonização foi holandesa.
- E na Bahia, foi o quê?
- Ora, foi africana!
- Então tá explicado.
Os dois saem do banheiro e fico eu a refletir com meu fio dental. Em menos de dois minutos, uma tonelada de preconceitos e desinformação (os holandeses no Brasil ocuparam Pernambuco, e não o Ceará). Isso porque o diálogo em questão foi travado entre dois profissionais muito qualificados, com pós-graduação, fluência em idiomas e salários de cinco dígitos.
A gente tem ainda muito a aprender.
2 Comments:
Até eu que sou meio limitada, não apanharia sobra essa parte da colonização.
Mas o preconceito vestido de racismo dá nojo mesmo.
Eles acham que os africanos não faziam nada??? É isso? Fala pra eles que eram os índios que não gostavam do trabalhos pesado...já os negros, não só trabalhavam como eram escravizados, violentados, humilhados. Na verdade são até hoje. Quanta gente "pequena" meu Deus...
Já não me bastava a matéria que vi na terça-feira : http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20061121-253498,00.html
É, meu caro Capi "E como temos que aprender."
Ah! Tira uma dúvida, por favor, eles são brasileiros???
Abraço
Estava aqui passeando pelo seu blog e realmente tenho que deixar um comentário sobre isso: Primeiramente a desinformação realmente é grande. Dizer que a colonização dos holandeses foi em Pernambuco e na Bahia foi portuguesa. Que a Bahia possui um grande número de negros porque a Bahia foi o maior produtor de cana de açucar do Brasil e, os negros africanos para cá vieram para trabalhar muito pesado, diga-se de passagem. Que na Bahia se trabalha muito, mas tem a fama da preguiça pq os baianos sabem como ninguém desfrutar dos prazeres que a sua terra oferece. E também falar que na Bahia não foi feriado não. Todo mundo trabalhou normal no dia da consciência negra. Aqui, a consciência do negro é um exercício diário, porque muitos hábitos da Bahia são carregados de cultura e de história negra. Então eu, branquela do jeito que sou, me sinto mesmo muito negra. Porque tenho orgulho de ter nascido nessa terra tão rica e com um povo que não desiste nunca de sorrir, mesmo nas adversidades. A maior lição que o negro nos dá é essa: mesmo com todo aquele trabalho escravo, eles se divertiam. Eles não deixavam as suas almas se escravizarem. Parabéns pelo texto. Vale mesmo a pena relembrar esse dia! Beijos
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