14 novembro 2006

Dengue ou não dengue?

Passei mal no final de semana. Dor de cabeça, febre alta, corpo cansado. No domingo, não consegui levantar para tomar café. À noite, notei umas pintinhas vermelhas nas costas. Segunda-feira de manhã fui ao médico:

- Hmmm, seu Capi, isso parece dengue. Vamos fazer um hemograma?
- ...
- Não se preocupe, não demora. É só ir no guichê, carimbar essa guia, voltar ali na enfermagem e colher o sangue. Daqui a duas horas, no máximo, eu chamo na recepção e a gente volta a conversar.

Fui me arrastando até a enfermaria e fiz o exame. Terminando, falei à atendente:

- Posso ficar aqui um pouco? É que...
- Não, seu Capi, o local de esperar pelo resultado é na recepção.
- Tá, mas isso demora ainda mais de uma hora. Só quero ficar aqui alguns minutos porque...
- Melhor não, seu Capi. Se não quiser aguardar na recepção, pode dar uma volta pelo hospital ou conhecer nossa lanchonete. Mas avise na recepção para lhe chamarem quando o exame ficar pronto.
- MAS NÃO DÁ PRA LEVANTAR! EU TÔ PASSANDO MAL!
- Nossa, por que não falou antes? Então respire fundo, encoste a cabeça e descanse.

Passou uns cinco ou dez minutos, senti-me melhor e fui à recepção. Sentei e esperei. Uma hora e meia depois, impaciente, levantei e fui à porta do consultório. O médico me chamou:

- Bom, seu Capi, seu hemograma está absolutamente normal.
- Oba! Então eu não estou com dengue.
- Não é bem assim. O hemograma às vezes não é conclusivo em casos de dengue. Precisa fazer um exame sorológico específico.
- E como é esse exame? De sangue, também?
- Sim. Infelizmente, o senhor vai ter de tirar sangue outra vez.
- Mas porque já não fizeram esse exame, se já estavam com meu sangue?
- Porque esse exame só pode ser feito em posto de saúde público, pois os dados vão para o controle de epidemia. Mas eu vou lhe dar uma outra guia, e o senhor vai até qualquer posto de saúde e...

Pensei em perguntar porque me fizeram esperar duas horas, passando mal, pelo resultado de um exame que não é conclusivo. Não seria mais fácil me mandar direto ao posto de saúde? Mas vi que essa conversa não ia dar em nada e resolvi ser mais prático:

- Então me diz: se isso que eu tenho não for dengue, pode ser o quê?
- Pelo quadro, se não for dengue só pode ser rubéola.
- Mas rubéola eu tive aos 16 anos. Pode ter de novo?
- Não, rubéola só se tem uma vez. Então você tem é dengue mesmo.
- E se eu tenho dengue, qual é o tratamento?
- Nenhum. Só repouso e tomar bastante líquido. Se tiver dor e febre, paracetamol.
- Exatamente o que venho fazendo desde sexta-feira. Obrigado e bom dia.

Saí, levando comigo a tal guia do exame sorológico. Cansado (foram duas horas e meia no hospital), fui para casa e dormi o resto do dia.

Terça-feira acordei melhor e fui trabalhar, ainda que um pouco fraco e com uma leve dor de cabeça. Nem passei perto do posto de saúde.

E foi assim que eu perdi a chance de fazer parte das estatísticas oficiais da dengue no litoral paulista.

3 Comments:

Blogger Furlan said...

Isso é olho gordo! Sal grosso, uns dentes de alho e reza braba, e você fica bem, ô, Capi!
Eu tive uma dengue-não-dengue no ano passado (ou retrasado?), o Arturo teve, razão pela qual é de se crer tratar-se de afecção que nos acossa como, aos românticos, a tuberculose. Seja bem vindo ao clube!

15 novembro, 2006  
Blogger Codinome Beija-Flor said...

Capi,
Espero que agora vc já esteja de fato bem.
Se não fosse tão trágico teria sido cômico.
A enfermeira olhou pra vc e não conseguiu perceber que vc passava mal? Qual será o %m de comissão que ela recebe da lanchonete?
Isso tudo porque era uma clínica particular, (privada)!!!
É meu caro, de fato essa foi mesmo PRIVADA.
Pra tua sorte ainda bem que não era cálculo renal, já pensou qual seria o diagnóstico ?????
Saúde pra vc.

15 novembro, 2006  
Blogger mperri said...

3 anos mais tarde... SENSACIONAL!rs

03 fevereiro, 2009  

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