15 junho 2007

Carta a dois irmãos

Ao que vai, não há muito a dizer
Que esteja bem, que esteja em paz
Que esteja com Deus, que esteja com a luz
Que saiba mais do que eu.

Ao que fica, o recado é longo
Mas preciso escolher bem as palavras
É inútil o conselho, é tolo o consolo
Nada mais sábio que o silêncio.
Daí o abraço mudo, que diz tudo
Mas não resolve.

É meu dever fazer-me entender
Perceber que a dor existe, e respeitá-la
Compreender se dor persiste, e resignar-se
Mas quando a dor insiste e não desiste... aí é que se resiste
Usa a dor pra criar força e ir em frente.

E de algum jeito, recolhe o que sobrou
Do tanto que aprendeu na convivência
Do tanto que brincou, que brigou, que se uniu e separou
E tornou a unir
Vê de novo o sol e o riso que vão nunca se apagar.

Dói, velho.
Mas é preciso deixar o passado passar
É possível fazer o presente se abrir
E até esperar um futuro brilhar.

Chore.
Mas depois torne a sorrir.
E abra os olhos
Venda a casa
Doe os livros
Recicle as latinhas de cerveja.

E o que mais?

Não sei há justiça, terrena ou divina
Não sou da polícia, não estou no governo
Não sei resolver a questão da segurança pública no país
Não sou contra nem a favor
Da pena capital ou da redução da maioridade penal
Não tenho nenhuma proposta, nenhuma resposta
E nenhum desejo de vingança.

Só sei ser mesmo o que sou:
Um cara que escreve canções
Um poeta que canta e toca um violão
Um pai que cria seus filhos
Um homem que ama sua mulher
Um ser de carne que acredita no espírito.

E assim sendo, amando e criando
Tocando, cantando e escrevendo
Vou levar sempre essa mensagem
De amor e paz
Porque não há mais
O que dizer.