19 julho 2006

Música e Novelas

Aprendi a gostar de música vendo novelas. Explico: quando criança, meus pais não tinham o hábito de comprar discos ou mesmo escutar rádio. Sequer havia som em casa. Mas gostavam de TV. Meu pai assistia (assiste) futebol e minha mãe via (vê) novelas.

Como passava muito tempo com minha mãe, acabei vendo muita novela na infância. Não ligava muito pro enredo, mas prestava atenção na trilha sonora. Logo percebi que a música não estava lá só de enfeite; muitas vezes, as letras das canções (e mesmo o clima da melodia ou da instrumentação) tinha a ver com o personagem ou a ação que rolava. Foi uma descoberta: música serve não só pra dançar e cantar, mas também para contar histórias!

Foi vendo novelas que conheci, por exemplo, Toquinho e Vinícius (Fogo sobre Terra, 1974), Elis Regina (O Casarão, 1975), Caetano Veloso (Sem Lenço, sem Documento, 76), João Bosco (O Astro, 77), Chico Buarque e Nara Leão (Dancin’ Days, 78), Gilberto Gil (Os Gigantes, 79), João Gilberto (Água Viva, 80) e Tom Jobim (Brilhante, 81).

Lembrei disso porque vi que a atual novela das 8 tem na abertura “Wave”, na versão instrumental com Tom Jobim. Pra mim, uma das melhores músicas já feitas no Brasil, típica do estilo do maestro: arranjo econômico, harmonia intrincada e melodia ao mesmo tempo fácil (fica na cabeça de primeira, a gente ouve e quer sair assobiando) e difícil (tem nuances e dissonâncias bem construídas).

A novela pode até ser uma bobagem, mas nos próximos seis ou oito meses milhões de brasileiros – incluindo crianças e jovens que mal sabem quem foi Tom Jobim – vão ouvir “Wave” diariamente. Eu acho que está valendo.

12 julho 2006

"Eu tenho tudo na minha vida"

A Pequena e o Pequeno Capi passam férias na casa dos avós, no interior. Lá tem sol, quintal de terra, cabana de madeira, horta, árvores, primos, tios, avós e tudo o mais que uma criança precisa para não sentir a falta do pai, que ficou em casa trabalhando.

Hoje, namorando com a Sra. Capi pelo telefone (como nos velhos tempos), soube que a Pequena disse assim pro avô:
- Vô, eu tenho tudo na minha vida. Falta só uma coisa.
- Falta o quê, Pequena?
- Falta eu me sujar na terra!

E começou a rolar pelo quintal até suas roupas, pés, mãos, rosto e cabelos ficarem daquele marrom avermelhado, típico do chão do interior de São Paulo.

Agora essa frase (“eu tenho tudo na minha vida”) não me sai da cabeça. Sei que a Pequena não falava de coisas materiais. Ela não tem um quarto só pra ela, não tem todos os brinquedos que deseja e não conhece a Disney Word (aliás, nem o Parque da Mônica). Mas na sabedoria de seus seis anos de idade, já entendeu que possui coisas muito mais valiosas.