30 maio 2006

Os prédios tortos da praia de Santos


Quando eu era criança
Criança de tudo, seis, sete anos
Ia com a mãe brincar na praia de Santos.
Corria, rolava na areia, banhava no mar
Então cansava.
Deitado, mar de um lado
Do outro os prédios.
Prédios tortos, no chão de areia mole
Que a engenharia não vencia.

Daí pensava
Ser gente grande, sabido moço
Poder direitar eles, prédios
Tão tortos como a vida das pessoas.

E fui crescendo, jovem arteiro
Desenhos e cálculos, ficou mais difícil
Não saberia agora desentortar edifícios.
Mas a vida das pessoas... quem sabe poesia?

Então, fui aprender este ofício
Nas noites em claro, luares, violões
Deixei assim de ser ente torto
Ganhei rumo certo, direto, preciso:
Aprendi como é ser.

Já não ligo pros prédios, deixo eles tortos
Mas teimo ainda em rumar as pessoas
Mas posso isso, não
Porque um poeta só dá a ferramenta
Que a vida, cada qual conserta a sua.