Atrasou o vôo, mas carregou as malas
Quarta-feira, fim de tarde. Aeroporto de Congonhas, São Paulo. Um avião quase lotado se prepara para voar rumo a Belo Horizonte. Está atrasado em quase meia hora.
Estou numa das primeiras fileiras. Reparo então em um senhor pequeno, de óculos, cabelos grisalhos enrolados, vestindo jaquetas jeans, que entra no avião de cabeça baixa, como quem não quer ser notado, e senta discretamente na primeira poltrona, à janela. Parece conhecido. Penso um pouco e lembro o nome: Caetano Veloso.
Logo que ele entra, as portas se fecham e começa a decolagem. Estavam esperando por ele.
Vôo tranquilo. Vou ouvindo no fone uma interessante seleção de músicos brasileiros cantando músicas de filmes da Disney. A melhor versão é do Bernardo Lobo (filho de Edu Lobo) cantando o tema de "A Pequena Sereia". Nas telinhas, um programa de variedades da TAM passa um videoclipe do... Caetano Veloso. As pessoas começam a cochichar ("olha, ele tá bem aí na frente") e eu imagino como isso deve ser constrangedor para ele. Ou não.
Quando o avião pousa, o Caetano é o primeiro a sair, quase deslizando da poltrona para a porta. Um sujeito a meu lado comenta: "Esses caras não devem nem esperar a bagagem, alguém na certa faz isso pra eles". Saímos do avião e vamos para a esteira de bagabens. Caetano está lá, parado, com um carrinho de mão, esperando sua bagagem. Uma ou duas pessoas se aproximam, pedem autógrafos, tiram fotos. Ele atende sem muita simpatia, mas com educação. Logo o deixam em paz. Ele tira do bolso da jaqueta uma maçã embrulhada em um guardanapo e começa a comer.
Aí me lembro de uma entrevista que vi na MTV há alguns anos, em que o Caetano criticava as mordomias e a arrogância dos grupos de música pop e rock estrangeiros quando vêm ao Brasil. "Os Beatles, que musicalmente valiam muito mais que qualquer um desses grupos, tinham muito mais humildade", dizia ele. "O Paul McCartney, no auge do sucesso, foi visto carregando o próprio amplificador durante uma turnê".
A esteira começa a se mover, as bagagens estão chegando. Além da mala, tenho três pacotes de folhetos promocionais da empresa para levar. Chega um, depois os outros dois, depois a mala. Empilho tudo no carrinho e olho pro Caetano bem à minha frente. Ele ainda está ali, esperando suas bagagens. Fico curioso de saber se ele também carrega, não digo o amplificador, mas o seu violão. Mas estou atrasado e vou-me embora.
No dia seguinte, de manhã, lendo o jornal no hotel, descubro o que ele estava fazendo ali: um show junto com Milton Nascimento, para divulgar a trilha sonora que ambos fizeram para um filme brasileiro, "O Coronel e o Lobisomem", que acaba de estrear.
Estou numa das primeiras fileiras. Reparo então em um senhor pequeno, de óculos, cabelos grisalhos enrolados, vestindo jaquetas jeans, que entra no avião de cabeça baixa, como quem não quer ser notado, e senta discretamente na primeira poltrona, à janela. Parece conhecido. Penso um pouco e lembro o nome: Caetano Veloso.
Logo que ele entra, as portas se fecham e começa a decolagem. Estavam esperando por ele.
Vôo tranquilo. Vou ouvindo no fone uma interessante seleção de músicos brasileiros cantando músicas de filmes da Disney. A melhor versão é do Bernardo Lobo (filho de Edu Lobo) cantando o tema de "A Pequena Sereia". Nas telinhas, um programa de variedades da TAM passa um videoclipe do... Caetano Veloso. As pessoas começam a cochichar ("olha, ele tá bem aí na frente") e eu imagino como isso deve ser constrangedor para ele. Ou não.
Quando o avião pousa, o Caetano é o primeiro a sair, quase deslizando da poltrona para a porta. Um sujeito a meu lado comenta: "Esses caras não devem nem esperar a bagagem, alguém na certa faz isso pra eles". Saímos do avião e vamos para a esteira de bagabens. Caetano está lá, parado, com um carrinho de mão, esperando sua bagagem. Uma ou duas pessoas se aproximam, pedem autógrafos, tiram fotos. Ele atende sem muita simpatia, mas com educação. Logo o deixam em paz. Ele tira do bolso da jaqueta uma maçã embrulhada em um guardanapo e começa a comer.
Aí me lembro de uma entrevista que vi na MTV há alguns anos, em que o Caetano criticava as mordomias e a arrogância dos grupos de música pop e rock estrangeiros quando vêm ao Brasil. "Os Beatles, que musicalmente valiam muito mais que qualquer um desses grupos, tinham muito mais humildade", dizia ele. "O Paul McCartney, no auge do sucesso, foi visto carregando o próprio amplificador durante uma turnê".
A esteira começa a se mover, as bagagens estão chegando. Além da mala, tenho três pacotes de folhetos promocionais da empresa para levar. Chega um, depois os outros dois, depois a mala. Empilho tudo no carrinho e olho pro Caetano bem à minha frente. Ele ainda está ali, esperando suas bagagens. Fico curioso de saber se ele também carrega, não digo o amplificador, mas o seu violão. Mas estou atrasado e vou-me embora.
No dia seguinte, de manhã, lendo o jornal no hotel, descubro o que ele estava fazendo ali: um show junto com Milton Nascimento, para divulgar a trilha sonora que ambos fizeram para um filme brasileiro, "O Coronel e o Lobisomem", que acaba de estrear.