Bob não é bobo
Devorei “Crônicas”, do Bob Dylan. O estilo, como era de se esperar, lembra muito os beats Jack Kerouac (“On The Road”) e J.D. Sallinger (“O Apanhador no Campo de Centeio”), com longas frases e uma adjetivação meio maluca. Coerente com a música dele. No conteúdo, revela um sujeito com um tremendo respeito pela arte e uma inquietação admirável.
Aos 20 anos, Bob é um desconhecido que chega a Nova York com o sonho de entrar para o grupo restrito da música folk. Acaba em uma grande gravadora e vira astro nacional (o livro não conta essa parte, mas a gente sabe). Dez anos depois, ele se enche disso e grava um disco contrário ao som que o tornou famoso (o tal “New Morning”, que aliás nunca ouvi).
No outro capítulo, lá pelos 50 anos e considerado ultrapassado, ele reinventa seu jeito de tocar e faz um disco que é aclamado até hoje (“Oh Mercy”; também não ouvi, mas li muito a respeito na época – 1989 – e lembro que foi mesmo bastante elogiado). Ou seja: quando ninguém o conhecia, queria ser famoso; quando virou astro, quis ser esquecido; quando o desprezaram, provou que ainda estava vivo. Pode parecer que o cara não sabe o que quer, mas eu chamo isso de não se acomodar. E eu gosto.
Já sabia que o grande referencial de Bob Dylan havia sido o trovador folk Woody Guthrie, mas foi surpresa pra mim a citação que ele faz, no livro, ao bluesman Robert Johnson, que eu ouvia muito na época em que era vidrado em blues. Deu saudades. Vou ligar o toca-discos só pra ouvir de novo: “When the train came to the station, with two lights on behind, the blue light was my blues and the red light was my mind…”
Outra surpresa é quando Dylan se compara (com bastante coerência) a João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal, da Bossa Nova. Curioso: no Brasil, os principais seguidores de Bob Dylan vieram do Nordeste. Pense em como são dylanescos, cada qual ao seu modo, o cearense Belchior, o pernambucano Geraldo Azevedo e o paraibano Zé Ramalho.
Como intérprete, o baiano Caetano Veloso tem uma das melhores versões que já ouvi para uma canção de Bob Dylan: “Jokerman”, de 1992 (só perde, acho, para “All Along the Watchtower” com Jimi Hendrix). “Jokerman” originalmente era uma homenagem de Dylan ao então presidente americano Ronald Reagan. Caetano cantou-a no show “Circuladô”, que tinha uma canção, “Fora de Ordem”, inspirada em um discurso de George Bush Pai (que foi vice do Reagan). “Crônicas”, com sua linguagem beat e sua sinceridade eloqüente, vem a calhar no mundo atual, em que Bush Filho reina nos EUA e, aqui embaixo, a gente não sabe mais a diferença entre Maluf e Zé Dirceu.
Aos 20 anos, Bob é um desconhecido que chega a Nova York com o sonho de entrar para o grupo restrito da música folk. Acaba em uma grande gravadora e vira astro nacional (o livro não conta essa parte, mas a gente sabe). Dez anos depois, ele se enche disso e grava um disco contrário ao som que o tornou famoso (o tal “New Morning”, que aliás nunca ouvi).
No outro capítulo, lá pelos 50 anos e considerado ultrapassado, ele reinventa seu jeito de tocar e faz um disco que é aclamado até hoje (“Oh Mercy”; também não ouvi, mas li muito a respeito na época – 1989 – e lembro que foi mesmo bastante elogiado). Ou seja: quando ninguém o conhecia, queria ser famoso; quando virou astro, quis ser esquecido; quando o desprezaram, provou que ainda estava vivo. Pode parecer que o cara não sabe o que quer, mas eu chamo isso de não se acomodar. E eu gosto.
Já sabia que o grande referencial de Bob Dylan havia sido o trovador folk Woody Guthrie, mas foi surpresa pra mim a citação que ele faz, no livro, ao bluesman Robert Johnson, que eu ouvia muito na época em que era vidrado em blues. Deu saudades. Vou ligar o toca-discos só pra ouvir de novo: “When the train came to the station, with two lights on behind, the blue light was my blues and the red light was my mind…”
Outra surpresa é quando Dylan se compara (com bastante coerência) a João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal, da Bossa Nova. Curioso: no Brasil, os principais seguidores de Bob Dylan vieram do Nordeste. Pense em como são dylanescos, cada qual ao seu modo, o cearense Belchior, o pernambucano Geraldo Azevedo e o paraibano Zé Ramalho.
Como intérprete, o baiano Caetano Veloso tem uma das melhores versões que já ouvi para uma canção de Bob Dylan: “Jokerman”, de 1992 (só perde, acho, para “All Along the Watchtower” com Jimi Hendrix). “Jokerman” originalmente era uma homenagem de Dylan ao então presidente americano Ronald Reagan. Caetano cantou-a no show “Circuladô”, que tinha uma canção, “Fora de Ordem”, inspirada em um discurso de George Bush Pai (que foi vice do Reagan). “Crônicas”, com sua linguagem beat e sua sinceridade eloqüente, vem a calhar no mundo atual, em que Bush Filho reina nos EUA e, aqui embaixo, a gente não sabe mais a diferença entre Maluf e Zé Dirceu.
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