21 abril 2006

Sidarta Gautama

Numa terra distante, há muitos anos, nasceu um príncipe. Chamava Sidarta Gautama. Seu pai, a fim de poupá-lo das mazelas do mundo, não o deixava sair do castelo onde morava. Lá havia abrigo, conforto, amigos, festas, bebidas, mulheres, tudo o que ele precisava.

Os anos passaram. Já quase adulto, Sidarta um dia convenceu um dos guardas a deixá-lo passear fora do castelo. Assustou-se com o que viu:
- Quem são aquelas pessoas, tão sujas e magras? – perguntou ele ao guarda.
- São os pobres, príncipe. Eles não têm o que comer.
- E aquelas crianças, por que choram tanto?
- Porque seus pais não têm trabalho, e elas sentem fome.
- E aqueles homenzinhos pequenos, de cabelos e barbas brancas, gemendo sem parar?
- São os velhos e doentes, príncipe. Eles se preparam para morrer.
- Mas o que é morrer?

E assim foi o dia todo, Sidarta aprendendo que o mundo não se resumia ao seu castelo encantado. Perturbado, abandonou família, reino, castelo e saiu pelo mundo, buscando entender o porquê de existir tanto sofrimento.

Sidarta então percorreu terras e mares investigando os mistérios da existência. Conheceu os sábios ascetas do oriente, que renunciavam à vida em busca da iluminação espiritual. Passou a fazer parte do grupo: vivia meditando à sombra de uma árvore, alimentando-se das frutas e raízes ao seu redor.

Dias viravam meses, meses somavam anos, e Sidarta e os outros ascetas continuavam lá, sentados sob as árvores, esperando a grande luz cair sobre suas mentes.

Até que Sidarta notou um casal de esquilos que passeava por perto. Os animaizinhos corriam, colhiam suas nozes e comiam com prazer. Depois, debruçavam-se sobre o lago para beber água. Então namoravam um pouco. Não se preocupavam com nada, só viviam. E pareciam felizes assim.

Daí Sidarta levantou-se e mergulhou no lago para um bom banho (que não tomava fazia anos...). Os ascetas, apavorados, diziam:
- Sidarta, o que está fazendo? Vai voltar ao castelo? E a iluminação?
- Descobri que rejeitar os prazeres é um erro tão grande quanto viver só pelo prazer. O melhor caminho é o caminho do meio.

Dito isso, Sidarta aceitou o convite de uma família camponesa para viver com eles. Sua vida era de paz e amor: trabalhava, cantava, divertia-se nas festas. Mas também orava, pensava no seu próximo, tentava ajudar as pessoas. E reservava alguns momentos para meditar em silêncio, em busca da força espiritual.

Num desses momentos de meditação, aconteceu algo diferente. No lago à sua frente ergueu-se um monstro, a mais horrível criatura que ele já vira. O monstro primeiro tentou assustá-lo, mas Sidarta não teve medo. Então, a criatura ofereceu dinheiro, poder, prazeres, tudo o que Sidarta quisesse para ir com ele. Mas Sidarta não deixou o desejo dominá-lo.

O monstro ficou furioso, debateu-se de raiva e caiu, consumido pelo próprio ódio. Suas feições foram então se acalmando, modificando-se, até que Sidarta reconheceu: não era monstro algum, apenas seu próprio reflexo – dele, Sidarta – refletido na água.

Nesse dia Sidarta derrotou o maior inimigo de todo ser humano – o próprio ego – e alcançou a iluminação. A luz do universo radiou seu espírito e ele ganhou a paz eterna.

Passou o resto da vida contando sua experiência aos outros, ensinando. Mas aí já não era mais Sidarta Gautama. Passaram a chamá-lo de
Buda, que na língua lá daquele povo queria dizer “O Iluminado”.

Aprendi essa história no filme “O Pequeno Buda”, de Bernardo Bertolucci. Não sei se contei direito, pois assisti já há alguns anos. Mas o que me toca é a belíssima filosofia que há na essência do budismo. Essência que permanece, para quem quiser conhecer, não importa o que os homens mal intencionados tenham feito usando o nome dessa religião.

Com o Cristianismo é mais ou menos a mesma coisa. Mas deixa isso para outro dia.

3 Comments:

Blogger Arturo O.Bandini said...

Caraco, Capi!, foi o post mais longo que já vi...
A essência dessa história é bem bonita, entendo o que você quer dizer.
É uma pena que quando pessoas tentam organizar essa espiritualidade e doutrinar outras pessoas aparece a religião. E o que já fizeram em nome de Jesus, Deus, Alá ou Buda não está no gibi...

22 abril, 2006  
Blogger Capi said...

É uma questão de escolha: prestar atenção à essência ou ficar só na casca.

26 abril, 2006  
Blogger Arturo O.Bandini said...

O problema é que a casca te perturba direto, toca a campainha da tua casa, tem programa na TV e os bispos e pastores da casca se metem em política, marketing , se bobear, lavam o cérebro dos teus filhos.

01 maio, 2006  

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